ENTRE O PRAZER E O SIGNIFICADO

sexta-feira, janeiro 30

A Poética de um Clown 30

'Eu continuo a ser uma coisa só, apenas uma coisa - um palhaço,
o que me coloca a um nível bem mais alto que o de qualquer político.'

Charlie Chaplin
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quarta-feira, janeiro 28

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O senhor Valéry percorria sempre as mesmas ruas da cidade com os mesmos sapatos, um par de sapatos para cada rua.
Desde que nascera que vivia por ali, mas só conhecia 5 ruas que percorria com os seus 5 pares de sapatos diferentes.
O senhor Valéry explicava:

- É que absorvo demasiado as coisas. É como se ao atravessar uma rua nova o chão ficasse colado aos meus sapatos e mais ninguém tivesse espaço para pousar os pés.
É como se a partir daí só os pássaros pudessem percorrer a rua – finalizava, num tom poético, muito raro em si, pois era um homem que se orgulhava da sua lógica.

- O problema - explicava o senhor Valéry - não é dos sapatos, é da minha vontade de levar para casa tudo aquilo em que toco.

E o senhor Valéry clarificava:

- Como não me sinto completo comigo apenas, penso que tudo o que não sou eu me poderá completar, e portanto quero-o para mim e roubo-o ao mundo.

- Na verdade, as ruas agarram-se aos meus sapatos porque eu não sou feliz – disse o senhor Valéry melancólico.
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O Senhor Valéry. Gonçalo M. Tavares. Caminho
Foto de PalhaçoVoador. Porto - Serralves. 2008

sexta-feira, janeiro 23

Homo Faber 33

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Gilbert Garcin
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‘Vale a pena organizar a nossa vida de modo a conceder mais espaço ao acaso. O que mais nos impede de o fazer é, frequentemente, para além do receio perante o desconhecido, a caça ao proveito mais evidente: não queremos esbanjar tempo e energia com pessoas e coisas das quais pouco esperamos.
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Naturalmente faz todo o sentido que não dispersemos, mas quem exagerar na sua tentativa de maximizar a eficiência desaproveita inúmeras oportunidades. Facilmente nos esquecemos de que apenas podemos calcular o valor daquilo que já conhecemos.
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Quem considera desinteressante uma experiência que nunca fez ou uma pessoa que pouco conhece pode ter razão...ou não.’





quinta-feira, janeiro 22

O Viajante Imóvel 41






Hear no evil, speak no evil, see no evil.

quarta-feira, janeiro 21

A Poética de um Clown 29


Vuelo de Pajaros - Miró
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'Não se perguntem do que é que o mundo precisa,
perguntem o que é que vos faz sentir vivos. E depois ponham-no em prática.
Porque do que o mundo precisa é de pessoas que vivam a vida.'
Harold Whitman
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domingo, janeiro 18

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'Nothing' is the space for everything.
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quinta-feira, janeiro 15

Homo Faber 32

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Gilbert Garcin

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'As ruínas mostram-nos a loucura que é renunciarmos à nossa paz de espírito em nome das recompensas instáveis do poder terreno. Através da sua contemplação poderemos sentir a ansiedade resultante das nossas realizações – ou falta delas – esmorecer. Que importa que não tenhamos sido bem sucedidos aos olhos dos outros, que não haja monumentos ou procissões em nossa honra e que ninguém nos tenha dirigido um sorriso numa festa? Seja como for, tudo está destinado a desaparecer (...).

As ruínas convidam-nos a renunciarmos às nossas imagens de perfeccionismo e sucesso. Recordam-nos que não podemos desafiar o tempo e que somos meros joguetes de forças destrutivas que poderão, na melhor das hipóteses, ser mantidas à distância, mas nunca vencidas. Podemos gozar pequenas vitórias, alguns anos em que somos capazes de impor um certo grau de ordem sobre o caos, mas tudo estará, em última instância, destinado a diluir-se novamente num caldo primordial.

Se esta perspectiva tem o poder de nos consolar, talvez isso se deva ao facto de grande parte das nossas angústias radicarem na importância excessiva que atribuímos aos nossos projectos e preocupações. Somos atormentados pelos nossos ideais, e por um sentimento magnânimo e punitivo da gravidade das nossas acções.'

quarta-feira, janeiro 14

A Poética de um Clown 28







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'Eu gosto de gente assim,
capaz de fazer da própria vida
a mais bela das suas obras.'
Eugénio de Andrade
Foto de Enrico Gori

terça-feira, janeiro 13

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.o problema de entrares numa corrida de ratos é que no fim, mesmo que ganhes, continuas a ser um rato.
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domingo, janeiro 11

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'O senhor Valéry era pequenino, mas dava muitos saltos.
Ele explicava:
- Sou igual às pessoas altas só que por menos tempo.
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Mas isto constituía para ele um problema.
Mais tarde o senhor Valéry pôs-se a pensar que, se as pessoas altas saltassem, ele nunca as alcançaria na vertical.
E tal pensamento desanimou-o um pouco. Mais pelo cansaço, no entanto, do que por esta razão, o senhor Valéry um certo dia abandonou os saltinhos. Definitivamente.
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Dias depois saiu à rua com um banco.
Colocava-se em cima dele e fica lá em cima, parado, a olhar.
- Desta maneira sou igual aos altos durante muito tempo. Só que imóvel.
Mas não se convenceu.
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- É como se as pessoas altas estivessem com os pés em cima de um banco e mesmo assim conseguissem mexer-se – murmurou o senhor Valéry, cheio de inveja, quando regressava já a casa, desiludido, Com o banco debaixo do braço.
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O senhor Valéry fez então vários cálculos e desenhos. Pensou primeiro num banco com rodas, e desenhou-o. Pensou depois em congelar um salto. Como se fosse possível suspender a força da gravidade, apenas durante uma hora (ele não pedia mais) nos seus percursos pela cidade.
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E o senhor Valéry desenhou o seu sonho tão comum.
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Mas nenhuma destas ideias era confortável ou possível, e por isso o senhor Valéry decidiu ser alto na cabeça.
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Agora, quando se cruzava com as pessoas, na rua, concentrava-se mentalmente, e olhava para elas como se as visse de um ponto 20 centímetros mais acima. Concentrando-se, o senhor Valéry conseguia mesmo ver a imagem do topo do cabelo das pessoas que eram bem mais altas que ele.
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O senhor Valéry nunca mais se lembrou das hipóteses do banco ou dos saltinhos, considerando-as agora, a uma certa distância, ridículas. Porém, concentrado de tal modo nesta visão, como que de cima, tinha dificuldade em se lembrar da cara das pessoas com quem se cruzava.
No fundo, com a altura, o senhor Valéry perdeu amigos.'

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O Senhor Valéry. Gonçalo M. Tavares. Caminho
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Foto de PalhaçoVoador. Porto - Serralves. 2008
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sábado, janeiro 10

O Viajante Imóvel 40



UM VERÃO VIOLENTO - ESTATE VIOLENTA (1959)
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A RAPARIGA DA MALA - LA RAGAZZA CON LA VALIGIA (1961)

OUTONO ESCALDANTE - LA PRIMA NOTTE DI QUIETE (1972)
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O DESERTO DO TÁRTAROS - IL DESERTO DEI TARTARI (1976)




Realizados por Valerio Zurlini, um poeta da melancolia a descobrir.

sexta-feira, janeiro 9

Homo Faber 31

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A Dádiva da Oportunidade
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'O mais alto carvalho da floresta não é apenas mais alto porque cresceu da mais resistente bolota; é também o mais alto porque nenhumas outras árvores lhe obstruíram a luz do sol, porque o solo de que dispôs era profundo e fértil, porque nenhum coelho lhe roeu a casca enquanto jovem e nenhum lenhador o cortou antes da sua maturação.
Todos sabemos que as pessoas e os grupos com sucesso provêm de sementes resistentes. Mas saberemos o suficiente acerca da luz do sol que as aqueceu, do solo em que criaram raízes e dos coelhos e lenhadores que tiveram a sorte de evitar?
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Não são os mais brilhantes quem tem êxito (...). Nem o sucesso é a simples soma das decisões e dos esforços que tomamos e fazemos em nosso próprio favor. É antes uma dádiva. Os excepcionais são aqueles a quem foram dadas oportunidades – e que tiveram o vigor e a presença de espírito para as aproveitarem.'





sábado, janeiro 3

Dias de Fronteira

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Fotos de PalhaçoVoador. São Sebastião, Jarmelo, Almeida, Castelo Bom, Castelo Mendo. 2008/09

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‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’