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O senhor Valéry conhecia pessoas arrogantes e não gostava delas.
Para o senhor Valéry arrogante era a pessoa que se julgava melhor que a sua tarefa: quer esta fosse servir à mesa, escrever, ou pintar um quadro.
O senhor Valéry explicava:
Conheço pessoas que andam na rua como se fizessem um favor ao acto de andar. É perigoso julgarmo-nos maiores que a nossa tarefa – explicava o senhor Valéry.
- Se a nossa tarefa for fixar um prego na parede...
(e ele desenhava)
-...e se nos julgarmos mais inteligentes que essa tarefa, corremos o risco de falhar o prego, acertando em cheio no nosso próprio dedo.
- Deste modo – concluía o senhor Valéry – eu considero-me, em qualquer situação, ao mesmo nível da tarefa. Nem sou o seu chefe, nem o seu empregado. Eu e a minha tarefa somos coisas com igual inteligência que num determinado momento partilham o Destino. E é só.
O senhor Valéry, depois desta dissertação filosófica, ficou sem fôlego, de tão feliz que estava.
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O Senhor Valéry. Gonçalo M. Tavares. Caminho
Foto de PalhaçoVoador. Porto - Serralves. 2008
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