ENTRE O PRAZER E O SIGNIFICADO

quinta-feira, setembro 27

A Poética de um Clown 9

BBerenika



Voar não é altura,
é interioridade...



Palavras de Babel sobre "Nunca se pode concordar em rastejar, quando se sente ímpeto de voar." (Obrigado a ambos).


sábado, setembro 22

O Grande Teatro do Mundo 12

' A cegueira e a loucura (“É sinal dos tempos serem os cegos guiados por loucos”) são os pilares do mundo erguido em O Rei Lear, muito provavelmente a peça do cânone shakespeariano que mais temor e controvérsia tem gerado junto de críticos, encenadores e actores, atraídos e repelidos pela sua desmesura (“irrepresentável”, dizem eles), e confundidos pela sua ambígua imoralidade (o triunfo da injustiça, a redenção como uma quase impossibilidade). João Garcia Miguel traduziu e esquartejou o texto (burgher é aqui sinónimo de carne picada e cidadão), criando uma partitura bilingue que Anton Skrzypiciel e Miguel Borges interpretam em chave clownesca – a ternura pacificando a ira, a farsa amplificando a tragédia. Para o encenador, Lear é “um rei que se sente velho e quer voltar a ser homem”, que é como quem diz que estamos perante a “invenção do humano”. Harold Bloom cunhou a expressão, João Garcia Miguel arriscou transformá-la em coisa teatral. Representável, portanto.'
Programa TNSJ-TECA

quinta-feira, setembro 20

A Poética de um Clown 8

Alastair Magnaldo


'Accessing the imagination for acting purposes is not much different from the imaginative games played by children. When a child is playing house, there’s a whole life that is a temporary part of the child’s reality. Blankets and chairs become caves and houses. Play-Doh becomes sweet-potato pie. There really a monster under the bed, and the fear and adrenaline from running from the door and diving under the covers is honest. What started in the child’s imagination becomes alive. She’s tricked her subconscious, and the impulses and imagination feed each other.
Children inherently possess the elements of acting-they are almost always relaxed (at least, more relaxed than adults), they have incredible powers of concentration, and they can easily suspend their disbelief and live in their imagination. As adults, we’ve mostly lost this ability to create such elaborate fantasies. The reasons for leaving this fantasy world behind are valid – adults must live and survive in the real world, not something made up in the mind. But the actor needs to return and exercise the imaginative muscles that he had as a child, and to intertwine this ability with a writer’s words and the set. The actor has to see what is fake and believe it is real.'


Terry Schreiber

Modigliani

'Quando conhecer a tua alma, pinto os teus olhos'

domingo, setembro 16

O Amor aos 35


quarta-feira, setembro 12

Rebel Clown Army




"Clowns always speak of the same thing, they speak of hunger; hunger for food, hunger for sex, but also hunger for dignity, hunger for identity, hunger for power. In fact, they introduce questions about who commands, who protests." — Dario Fo (Italian playwright/fool)


Roll up, roll up - ladies and gentlemen, boys and girls, friends and foes - welcome to the unparalleled, the unexpected, the perfectly paradoxical, the grotesquely beautiful, the new-fangled world of the Clandestine Insurgent Rebel Clown Army (CIRCA).
We are clandestine because we refuse the spectacle of celebrity and we are everyone. Because without real names, faces or noses, we show that our words, dreams, and desires are more important than our biographies. Because we reject the society of surveillance that watches, controls, spies upon, records and checks our every move. Because by hiding our identity we recover the power of our acts. Because with greasepaint we give resistance a funny face and become visible once again.
We are insurgent because we have risen up from nowhere and are everywhere. Because ideas can be ignored but not suppressed and an insurrection of the imagination is irresistible. Because whenever we fall over we rise up again and again and again, knowing that nothing is lost for history, that nothing is final. Because history doesn't move in straight lines but surges like water, sometimes swirling, sometimes dripping, flowing, flooding - always unknowable, unexpected, uncertain. Because the key to insurgency is brilliant improvisation, not perfect blueprints.
We are rebels because we love life and happiness more than 'revolution'. Because no revolution is ever complete and rebellions continues forever. Because we will dismantle the ghost-machine of abstraction with means that are indistinguishable from ends. Because we don't want to change 'the' world, but 'our' world. Because we will always desert and disobey those who abuse and accumulate power. Because rebels transform everything - the way they live, create, love, eat, laugh, play, learn, trade, listen, think and most of all the way they rebel.

We are clowns because what else can one be in such a stupid world. Because inside everyone is a lawless clown trying to escape. Because nothing undermines authority like holding it up to ridicule. Because since the beginning of time tricksters have embraced life's contradictions, creating coherence through confusion. Because fools are both fearsome and innocent, wise and stupid, entertainers and dissenters, healers and laughing stocks, scapegoats and subversives. Because buffoons always succeed in failing, always say yes, always hope and always feel things deeply. Because a clown can survive everything and get away with anything.

We are an army because we live on a planet in permanent war - a war of money against life, of profit against dignity, of progress against the future. Because a war that gorges itself on death and blood and shits money and toxins, deserves an obscene body of deviant soldiers. Because only an army can declare absurd war on absurd war. Because combat requires solidarity, discipline and commitment. Because alone clowns are pathetic figures, but in groups and gaggles, brigades and battalions, they are extremely dangerous. We are an army because we are angry and where bombs fail we might succeed with mocking laughter. And laughter needs an echo.
We are circa because we are approximate and ambivalent, neither here nor there, but in the most powerful of all places, the place in-between order and chaos.


RUN AWAY FROM THE CIRCUS JOIN THE FORCES OF THE CLANDESTINE INSURGENT REBEL CLOWN ARMY

sábado, setembro 8

O Grande Teatro do Mundo 11


'De um ser chamado Homem-Almofada só se pode esperar uma natureza cândida, feliz e sobretudo inofensiva. A não ser que se trate de uma criatura imaginada por Katurian, a personagem central de The Pillowman (2003), do dramaturgo inglês Martin McDonagh. Nesse caso, só pode ser uma criatura que, movida pela mais terrível das boas intenções, se esforça por convencer criancinhas a cometer suicídio. Abordando com humor sardónico e cáustica ironia temas difíceis (ao suicídio infantil some-se ainda o infanticídio e o abuso sexual de menores), McDonagh urde uma irresistível farsa sobre o arsenal de perigos que decorre da, aparentemente inócua, decisão de ficar em casa e escrever uma história. Estreia fulgurante de Tiago Guedes (realizador do filme Coisa Ruim) na encenação, que – conjugando uma excepcional direcção de actores com o inspirado aproveitamento de recursos expressivos como a animação – nos propõe uma comédia negra travestida de drama. Mais uma eloquente prova que os Municipais de Lisboa dão ao Porto de que é possível – e desejável – criar objectos imensamente comunicativos a partir de exigentes matérias textuais e de uma indesmentível diferença artística.'
Programa TNSJ

quinta-feira, setembro 6

Homo Faber 10

Steve Chong


‘Diante de mim está um espelho. Ele vira-me do avesso: coloca-me a direita à esquerda e a esquerda à direita. E aqui começa a ambiguidade com que sempre me relacionei com este objecto. Se olho para ele, ele fixa-me, mas logo se torna inútil se desvio o olhar (...). Definitivamente, o que nós vemos no espelho é sempre o faz-de-conta. Olho para o cabelo para fugir desta sina. Sim, é para isso que os espelhos são úteis: para alisar o cabelo de modo a que não nos apanhem com o ar de monstros que a cabeça, na sua luta nocturna, contra os travesseiros engendrou. Também, assim tanto, não! Talvez o meu interior seja um pouco mais agradável do que aquele que o meu rosto mostra ao espelho pela manhã. Mas como posso eu saber?
Ah, já sei, escrevo poesia, faço um diário. Aí, sou um herói romântico, épico, como queiram, um sofredor à espera de compaixão, um desatinado encantador, um observador inteligente, amigo dos outros como ninguém. Cosmética. Enrolar-me em palavras não é mais do que aplicar rouge, creme, estudar o efeito da gola, escolher as cores que nesse dia me vão representar. Também posso falar, se é que encontro alguém disposto a ouvir-me. (...)

O que sou, então? Não me resta senão procurar a resposta nos olhos dos outros. Vou à procura de olhares e, por isso, gosto de andar no anonimato do metropolitano, frente a frente com os olhares desconhecidos: olhares baços, alguns, outros curiosos, uns poucos em desafio, outros tímidos, suplicantes, sonhadores. Nada me dá maior gosto do que o jogo dos olhares. Olhares que me procuram traiçoeiramente para logo me fugirem quando os enfrento, com lances de bate e foge, um sorriso fugidio, uma desatenção fingida, um desprezo ocasional, uma súplica inconsequente de intimidade, um genuíno evitamento, tal como eu faço com eles. São esses os verdadeiros espelhos onde nos refazemos através dos outros.

Também procuro olhares em espaços públicos convencionais. Aí, são olhares conhecidos que se prolongam em cumprimentos. Mas esses são mais parecidos com o meu espelho da parede: o sorriso forçado, o olhar condescendente, o gesto formal, o reflexo de um conhecimento factual por ambos conhecido e aceite. Nada de novo me trazem. Sempre me trazem o passado, poucas vezes o presente. Quanto ao futuro nada me dizem, a não ser que eu devo continuar a ser, para eles, o que era dantes: apenas um prolongamento do passado.

Não me dou bem com a ideia de ser um prolongamento do passado. Ele é um trilho que me empurra para a frente, mas não sei para onde. Apenas naquela direcção. Gostaria, sim, de ver uma meta, mas não creio que seja o passado a dar-ma. É verdade que já tive muitas metas. Muitas se revelaram enganos, outras ficaram ultrapassadas. Agora estou sem sentido, apenas os olhares conhecidos a empurrarem-me para a frente. Não gosto disso, quero ser eu próprio a inventar os meus caminhos.
Por isso, amanhã, vou para um lugar onde ninguém me conheça.
Vou renascer no primeiro olhar que encontre.’


J.L. Pio Abreu, Quem nos faz como somos, Dom Quixote

segunda-feira, setembro 3

A Representação do Eu nos Dias 27

meneer

‘Escolho os meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não me interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero respostas, quero o meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Escolho os meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também a sua maior alegria. Um amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Amigos são assim: metade disparate e metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios daqueles que fazem da realidade a sua fonte de aprendizagem mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças para que não se esqueçam do valor do vento no rosto; e velhos para que não estejam sempre com pressa. Tenho amigos para saber quem sou. Pois ao vê-los loucos e santos, tolos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil estéril!
Oscar Wilde

domingo, setembro 2

Depois de Férias

É possível trabalhar com o mesmo prazer de dançar. Bom regresso!

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’