ENTRE O PRAZER E O SIGNIFICADO

sábado, abril 26

A Representação do Eu nos Dias 36


Gilbert Garcin

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'“O executante de papéis é anterior à aparição do Eu, os papéis não provém do Eu, mas é o Eu que emerge dos papéis”, afirmava Moreno. Para ele, era claro que a personalidade pode definir-se como o conjunto de papéis que representamos. Estava também consciente de que modo os papéis podem aprisionar o homem e acabar com a sua espontaneidade e criatividade, e como a diversidade e a dissociação dos papéis a que o homem se sujeita acaba com a sua integração pessoal e social.

Podemos integrar os papéis na nossa vida de forma natural e dispor das condutas necessárias no momento necessário. Não vestimos o papel, mas somos esse papel.

Como aprender a desprender-se dos papéis quando não precisamos deles? O que eu tento aprender todos os dias é viver o mais ligado possível a mim próprio e a exprimi-lo com confiança, dentro do possível. Procuro evitar ter grandes expectativas e tento viver o presente. Por vezes, aceito o papel, mas agora tenho consciência disso e não me identifico com essa conduta.’
Xavier Guix

sexta-feira, abril 25

Homo Faber 20


Gilbert Garcin


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Exigência

‘O exigente nasce ou faz-se? Dependendo do âmbito em que analisemos a pergunta, assim teríamos respostas muito variadas. Mas o que com certeza sei é que dentro do exigente nasce um “exigidor” que lhe vai amargurando a vida.

Com a ideia de fazer as coisas “bem feitas”, “perfeitas”, esconde-se uma argumentação sem medida nem controlo que converte o exigente num escravo do seu “exigidor”. Existem diversos motivos pelos quais uma pessoa baseia a sua vida nas exigências. Ordens parentais, aprender a ser amado pelas suas conquistas e não por si mesmo, entrar no jogo da competitividade, etc.

O que pode acontecer é a pessoa orientar-se para as exigências e o seu corpo não o fazer. E o corpo é sábio!

Medos, inseguranças e exigências aparecem subtilmente nas nossas relações. Talvez não as verbalizemos, mas a nossa expressão não engana. O nosso corpo vai falar mais alto do que a nossa voz. Quem não pôs os olhos no chão antes de pôr os seus medos a descoberto? Os seres humanos andam sempre com medos de permeio e passam metade da sua vida a tentar superá-los. (...) O crescimento começa quando termina a acusação.'

Xavier Guix

quinta-feira, abril 24

A Poética de um Clown 20

Gabriel Pacheco
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Ser Clown
'Encontrar, no nosso interior, a nossa essência - esse toque ingénuo de loucura: as emoções mais nossas - a capacidade de surpreendermos e de nos entusiasmarmos; as defesas que se soltam - a responsabilidade, o excesso de lógica e a compostura; a reconciliação com a nossa própria estupidez, procurando a nossa maneira genuína de fazer humor - rindo-nos das nossas vulnerabilidades; o jogo em liberdade - um tempo e um espaço para habitar o nosso corpo com prazer e com orgulho , incluindo a sua dimensão grotesca; o delírio com o quotidiano; a coragem de viver os sonhos, em vez de sonhar a vida.'

Jorge Pacheco

(meu amigo clown)

sábado, abril 19

O Grande Teatro do Mundo 14

Dúvida. de John Patrick Shanley. Encenação de Ana Luísa Guimarães.
No Teatro Nacional São João até 27 de Abril
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Dúvida
'O que é a dúvida? Cada um de nós é como um planeta. Há a crosta, que parece eterna. Estamos confiantes acerca de quem somos. Se nos perguntarem, sabemos descrever de imediato o nosso estado actual. Eu sei as minhas respostas para muitas perguntas, tal como vocês. Como era o seu pai? Acredita em Deus? Quem é o seu melhor amigo? O que é que quer? As vossas respostas são a vossa topografia actual que parece ser permanente, mas que é enganadora. Porque debaixo dessa face de respostas fáceis existe um outro Eu. E esse Ser sem palavras move-se como se move o instante que passa; pressiona para vir à superfície sem qualquer explicação, fluido e sem palavras, até que a consciência que resiste não tem outra alternativa senão ceder.

É a Dúvida (vivida muitas vezes no início como fraqueza) que faz as coisas mudar. Quando um homem se sente inseguro, quando vacila, quando um saber arduamente conquistado se evapora diante dos seus olhos, é quando está no limiar do crescimento. A reconciliação, subtil ou violenta, da pessoa exterior com o seu íntimo parece muitas vezes, no início um erro, como se avançássemos na direcção errada e nos perdêssemos. Mas isso não é senão a emoção que anseia pelo que lhe é familiar. A vida acontece quando o poder tectónico da nossa alma silenciosa irrompe através dos hábitos estagnados da nossa mente. A Dúvida não é mais do que uma oportunidade de reentrar no Presente.

Existe um momento de desconforto em que a intensidade com que acreditamos começa a enfraquecer mas em que a hipocrisia ainda não se instalou, em que a consciência está perturbada mas ainda não alterada. É a experiência mais perigosa, importante e mais actual da vida. O início da mudança é o momento da Dúvida. É aquele momento crucial no qual ou renovo a minha humanidade ou me torno uma mentira.

A Dúvida requer mais coragem do que a convicção, e mais energia; porque a convicção é um lugar de repouso e a dúvida é infinita – é um exercício apaixonado. Podem sair da minha peça com incerteza. Podem querer ter a certeza. Analisem esse sentimento. Temos de aprender a viver com uma medida plena de incerteza. Não há uma última palavra. Isso é o silêncio debaixo do excesso de palavras do nosso tempo.'

John Patrick Shanley

sexta-feira, abril 18

A Representação do Eu nos Dias 35

Gilbert Garcin
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A Rotina
‘A rotina é uma mina afiada consoante quem a maneje. Imposta de fora para dentro, sublinha a fraqueza. Imposta de dentro para fora, sublinha a força, destacando-a do fundo como um músculo que sempre esteve lá mas não se via.’

‘Marguerite Duras começa um dos seus textos secretos a dizer que limpou a casa, o corpo e o cabelo, e depois se sentou, porque então podia começar a escrever.
Só as cabeças ordenadas aspiram à desordem, em forma de fim-de-semana, de férias reversíveis, com ida e volta. As outras agarram-se à rotina para não caírem. Criam-na porque não sabem como é.
É no perigo, nesse meio-passo suspenso sobre a loucura, que a rotina é um triunfo da vontade.’

‘Na rotina, repetindo um dia atrás do outro, uma criança descobre o mundo, como só pela rotina, um dia atrás do outro, conhecemos um lugar, porque é a repetição que evidencia a diferença – o acontecimento.’

‘O pensamento é peripatético. Floresce bem no trabalho sincopado de um corpo. Um corpo que não precisa desta disciplina é um corpo tranquilo, fora de perigo.
Aos outros, resta fazer do cárcere uma corda e sair por ela.’

Alexandra Lucas Coelho ( no Público de hoje)

Indie vs Fantas

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Francamente, eu até gosto (muito) de viver no Porto, mas hoje, mais uma vez, ao ver a programação do Festival de Cinema IndieLisboa'08, pergunto-me porque raio tenho que levar com um Fantasporto todos os anos.
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Já não bastava não termos uma cinemateca (ou algo parecido), e ainda temos que suportar um festival de cinema cada vez mais folclórico e comercial ( os tempos míticos do fantas já acabaram, meus caros - foi antes do DVD), sem qualquer intuito pedagógico ou cinéfilo, mas que devido às estratégias de marketing consegue mobilizar todo o dinheiro disponível para fazer festivais de cinema nesta cidade.
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Perderam-se oportunidade excelentes de dar continuidade ao que se fez na Porto2001 e as pérolas, como o Indie ou o Doc continuam a ir para o sul. Nós ficámos, com raras excepções, com o sangue e com as emoções rápidas e descartáveis.
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O Porto, cidade cinematográfica, merecia mais...

quinta-feira, abril 17



quarta-feira, abril 16

O Viajante Imóvel 33




Coeurs, de Alain Resnais


Um dia o meu coração começou a bater com demasiada pressa.
Tão depressa que ficou a bater sozinho.

terça-feira, abril 15

A Poética de um Clown 19

A rapariga. Miró
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'Não penso, logo existo.'
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Jean Cocteau

segunda-feira, abril 14

Brinquedos Ópticos 26

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Sempre gostei de séries cómicas. Quando era adolescente consumia fervorosamente tudo que os Monty Python tinham feito, em cassetes de VHS com fitas gastas de serem rodadas a partilhar com todos os amigos que vinham lá a casa. Riamos vezes sem conta dos mesmos sketches.
Passados uns anos, ficava acordado até à hora que fosse preciso para poder ver no segundo canal (em que outro poderia ser?) o Seinfeld e companhia. Consumido ao pormenor, sempre ansioso pela abrupta entrada do Kramer, já faziam parte do grupo de amigos. E tudo gravado em VHS em dezenas de cassetes que já não servem para nada ( mas que por qualquer motivo do domínio do inconsciente ainda não consegui deitar ao lixo).
Depois deu-se o advento do DVD e descobri algumas pérolas como a série completa Fawlty Towers – super John Cleese e amigos - doze episódios que devorei numa noite. Don’t mention the war! Qué?
Outras se foram vendo, mais irregulares, com mais ou menos piada (é óbvio que o meu telejornal acaba quando começa o Friends na dois).
Hoje vi a segunda parte da série Extras, do Rick Gervais & Stephen Merchant. Já tinha gostado bastante da primeira série e, neste momento, ao acabar de ver os seis episódios da segunda, fico mesmo com a sensação de que a comédia, quando bem feita, é uma arte maior.
Saber fazer rir....espelhando a humanidade trágico-cómica do espectador...com honestidade... e, neste caso, ainda com a crítica acutilante ao meio artístico ( que afinal não é melhor, nem pior do que qualquer outro meio) - que qualidade rara e preciosa.
Mais uma vez, no palco, no cinema, na rua, na televisão, na vida, vivam os palhaços!

domingo, abril 13

sábado, abril 12

Coaching

Gilber Garcin



‘If we treat people as they are, we make them worse. If we treat them as they ought to be, we help them to become what they are capable of becoming’

Goethe

'Coaching turns everyday life into self-development. This is its great strength. Everyday life can be humdrum, or it can be a series of opportunities and a call to action.

Coaching helps people to become more themselves. Coaching is society’s way of moving people from one stage, where they are identified with social mores and introjected values to other stage, where they march to their own beat, and follow their own values. Therefore, coaching will create more individuals to enrich society. It will add to the breakdown of consensus and foster niches and small communities in a way the internet has already done.


Coaching helps people to tolerate ambiguity in themselves and therefore to tolerate ambiguity in others and deal with the world, wich changes so quickly. Coaching also gives multiple and richer perspectives, fostering post-modern thinking, wich is about looking from multiple perspectives at multiples contexts. It will make people think more about power – who has it and who has not. Perspective is power. Power goes to the perspective that is privileged, so people will be more aware of who decides which perspective is privileged.


Coaching helps people make new distinctions; this will help them lead a richer, happier life and also adjust to the new distinctions that are being created every day in the arts, the sciences and in business. At is best coaching will help people see that they can create a relationship of trust, and they will be able to take this and create more such relationships in their life.
We strongly believe that we need all these skills now and in every possible future.'

Citação do livro How Coaching Works de Joseph O'Connor e Andrea Lages
O melhor livro que já li sobre coaching e que me faz gostar ainda mais desta profissão.


sexta-feira, abril 11

A Poética de um Clown 18

Personagens Invertidas. Miró

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‘Toda a influência é imoral; imoral sob o ponto de vista cientifico. - Porquê?

Porque exercer a nossa influência sobre alguém é darmos a própria alma. Esse alguém deixa de pensar com os pensamentos que lhe são inerentes, ou de se inflamar com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são reais. Os seus pecados – se é que os pecados existem – são emprestados. Tal pessoa passa a ser o eco da música de outrem, o actor de um papel que não foi escrito para si. O objectivo da vida é o nosso desenvolvimento pessoal. Compreender perfeitamente a nossa natureza – é para isso que estamos cá neste mundo.

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Hoje as pessoas temem-se a si próprias. Esqueceram o mais nobre de todos os deveres: o dever que cada um tem para consigo mesmo. É certo que não deixam de ser caritativos. Dão de comer aos que têm fome e vestem os pobres. Mas as suas almas andam famintas e nuas. A coragem desapareceu da nossa raça. Ou talvez nunca a tivéssemos tido. O temor da sociedade, que é a base da moral, o temor de Deus, que é o segredo da religião – eis as duas coisas que governam.
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E, contudo.... se um homem devesse viver a sua vida em toda a plenitude, dar forma a todos os sentimentos, expressão a todos os pensamentos, realidade a todos os sonhos, creio que o mundo ganharia um novo impulso de alegria que nos levaria a esquecer todos os males do medievalismo e a regressar ao mundo helénico. Talvez mesmo a algo mais refinado e mais rico que o ideal helénico.
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Mas o mais ousado de todos nós teme-se a si mesmo. O selvagem mutilado que nós somos sobrevive tragicamente na auto-rejeição que frustra as nossas vidas. Somos punidos pelas nossas rejeições. Todo o impulso que esforçadamente asfixiamos fica a fermentar no nosso espírito e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e mais não precisa, pois a acção é um processo de purificação."
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Oscar Wilde
(obrigado Marisa)

quarta-feira, abril 9

Estupidez Humana

Eis o que eu penso todos os dias quando estou a ver o telejornal.

terça-feira, abril 8

A Representação do Eu nos Dias 34

BBerenika

‘Ninguém vai bater-te com tanta força quanto a vida. Mas a questão não é a força com que conseguimos bater, é a pancada que conseguimos aguentar e continuar a avançar. Quanto se consegue aguentar e continuar em frente.
Se sabes o que vales, vai à luta e consegue-o.
Mas tens de estar disposto a aparar os golpes sem apontar dedos, sem dizer que não estás onde queres por causa deste, daquela ou de ninguém!’

Rocky Balboa (sim..esse mesmo :o))

segunda-feira, abril 7

WHY DO I WANT TO BECOME AN ACTOR - Documentary NYFA

Realização: ZED

'There's so much beauty in the world. Sometimes I feel like I'm seeing it all at once, and it's too much, my heart fills up like a balloon that's about to burst...and then I remember to relax, and stop trying to hold on to it, and then it flows through me like rain. And I can´t feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life...'

Passaram exactamente dois anos. It's my story, in my body...
Um grande abraço a todos, onde quer que estejam!

sábado, abril 5

A Poética de um Clown 17

Bailarina. Miró
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'Às vezes penso que se fosse uma magnólia quereria ser um laranjeira, se fosse um águia quereria ser um cavalo ou se fosse quadro quereria ser uma fotografia. Esqueço-me que devo ser o que sou. Pela evidência de ser o único que tenho e posso ser e, porque, só quando gostar disso é que posso tocar a felicidade e passá-la.
Fico a pensar que perdemos demasiado tempo em querer dar laranjas, em galopar velozmente ou em ser o flash de um instante supremo. Quando, na verdade, o que podemos fazer é chegar a dar muitas e belas flores, voar cada vez melhor ou tornarmo-nos até num Rembrandt.
Cada qual deve acabar por pegar na própria vida nos braços e beijá-la'.

Arthur Miller
(Um dos muitos rastos do cometa que ficam comigo)

Homo Faber 19



‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’