“Era uma vez uma águia que foi criada num galinheiro. E foi aprendendo o jeito galináceo de ser, pensar, de ciscar a terra, de dormir no poleiro... e à medida que ia aprendendo, esquecia as poucas lembranças que lhe restavam do passado.
É sempre assim : uma aprendizagem exige o esquecimento do passado. Esqueceu os cumes inacessíveis da montanha, os voos nas alturas, o frio das neves eternas, o horizonte a perder de vista, o delicioso sentimento da dignidade e liberdade.
Um dia apareceu um homem que vivera nas montanhas e vira o voo orgulhoso das águias.
'- Que fazes aqui ?' perguntou-lhe.
'- Este é o meu lugar...', respondeu.' - Toda a gente sabe que as galinhas vivem nos galinheiros, comem milho, ciscam o chão, deitam ovos e, finalmente, vão parar à panela – nada se perde!'
'- Mas tu não és uma galinha, és uma águia!'
'- De maneira nenhuma. A águia voa alto e eu nem sequer voar sei. Para dizer a verdade, nem quero. A altura dá vertigens. É mais seguro ficar por aqui, com a minha ração de milho garantida.'”
1 comentário:
A acomodação é, por via das dúvidas, um terreno seguro, ante o quão exponencial poderá ser o abrir de asas e voar inseguramente ante o desconhecido e pouco desejado!
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