CAMPONÊS plantando árvores e HOMEM solitário. Aproxima-se a hora solene do ocaso. O HOMEM, que percorrera todos os caminhos do mundo, suspira profundamente.
HOMEM — (Depois de um longo silêncio) Ouça.
CAMPONÊS — O quê?
HOMEM — (Com voz cansada ) Plante-me também a mim.
CAMPONÊS — (Surpreendido) Como?
HOMEM — Plante-me a mim.
CAMPONÊS — (Sem demonstrar a surpresa ) Porquê?
HOMEM — Estou cansado.
CAMPONÊS — E como quer que o plante?
HOMEM — Como se fosse uma macieira.
CAMPONÊS — Está a falar a sério?
HOMEM — Não sei falar de outra forma.
Pausa. O CAMPONÊS encolhe os ombros, põe o homem às costas, mete-o no buraco pequeno e enterra-o até aos tornozelos. O HOMEM, que abrira os braços em cruz, levanta os braços para o céu e fica muito quieto, quase sem respirar, à espera do milagre de uma nova primavera que o faça, por fim, frutificar.
Javier Tomeo, in Histórias Mínimas
(Obrigado Marisa)
(Obrigado Marisa)