'Os dois homens poderosos estavam já na rua, andando agora no mesmo plano daqueles que há pouco viam da janela. Porém, apesar de um olhar distraído porventura os poder confundir com a multidão, era evidente, nos dois homens, uma confiança e uma energia que não se viam em mais nenhum rosto.
Só, curiosamente, no louco, num dos loucos mais conhecidos da cidade, que se cruzou com estes dois homens provocando noutras pessoas alguns sorrisos – pelo contraste entre a seriedade e uma velocidade apalhaçada do demente; só no louco, então, se via um rosto totalmente conquistado pela auto-admiração e pela confiança inabalável no seu modo particular de ver o mundo. Um soberano de facto.
Alguém que manda: é dessa maneira que o louco avança pelas ruas.
Os dois homens viraram mesmo o rosto, cumprimentando-o com um ligeiro aceno de cabeça. Deram-lhe pois mais atenção do que às dezenas e dezenas de pessoas com quem se cruzaram, pessoas que os queriam à força cumprimentar, naquela troca quase comercial de olhares (...).
O louco, apesar do seu descontrolo na relação com o mundo, merecia mais respeito do que todos os outros, pois pelo menos nele conseguiam vislumbrar uma espécie de orgulho individual que, se não o permitia comandar os outros homens, pelo menos permitia-lhe não lhes obedecer'.
Só, curiosamente, no louco, num dos loucos mais conhecidos da cidade, que se cruzou com estes dois homens provocando noutras pessoas alguns sorrisos – pelo contraste entre a seriedade e uma velocidade apalhaçada do demente; só no louco, então, se via um rosto totalmente conquistado pela auto-admiração e pela confiança inabalável no seu modo particular de ver o mundo. Um soberano de facto.
Alguém que manda: é dessa maneira que o louco avança pelas ruas.
Os dois homens viraram mesmo o rosto, cumprimentando-o com um ligeiro aceno de cabeça. Deram-lhe pois mais atenção do que às dezenas e dezenas de pessoas com quem se cruzaram, pessoas que os queriam à força cumprimentar, naquela troca quase comercial de olhares (...).
O louco, apesar do seu descontrolo na relação com o mundo, merecia mais respeito do que todos os outros, pois pelo menos nele conseguiam vislumbrar uma espécie de orgulho individual que, se não o permitia comandar os outros homens, pelo menos permitia-lhe não lhes obedecer'.
Gonçalo M. Tavares, Aprender a Rezar na Era da Técnica, Caminho
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