'O egocêntrico exame de consciência do cristianismo habituara-o a estar atento a si próprio, a afagar-se, a embalar-se com uma infinita ternura. E esse eu bem tratado crescia e olhava sempre para dentro em lugar de lançar uma olhadela para ver o que se passava à sua volta. Assim, o rigorismo moral desagua, através da introspecção e da auto-análise, nas subtilezas psicológicas complacentes e extenuantes do refúgio em si mesmo.'
August Strindberg – O Filho da Criada
'Para Ibsen, o próprio desejo de uma vida plena e inteira surge como culpado; culpado de não ter em conta a verdade, isto é, as condições objectivas que se opõem ao livre desabrochar da pessoa. Ao mesmo tempo, Ibsen sabe muito bem que essa “megalomania da vida” é necessária. Nas suas últimas peças, os indivíduos encontram-se confrontados com uma terrível escolha entre dois males, entre dois erros igualmente trágicos. (…) Era um grande poeta do mal-estar da civilização: dá-se claramente conta de que a civilização da sua época bloqueia o sonho de uma humanidade feliz e reconciliada consigo mesma, de que ela torna irrealizável esse desenvolvimento harmonioso. E, no entanto, Ibsen persegue esse sonho de peça em peça, até à desilusão. Bem antes de Thomas Mann, ele mostra quão vão é esse esforço que a vida faz para se transcender a si mesma e a impossibilidade dessa transcendência.
Ele narra a barreira que existe entre o indivíduo e a vida.'
Ele narra a barreira que existe entre o indivíduo e a vida.'
Claudio Magris
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