Platónov de Anton Tchékhov. Encenação de Nuno Cardoso
[ 17 JUL 3 AGO] TEATRO NACIONAL SÃO JOÃO
À medida que a peça avança fica claro o seu ressentimento. O desânimo é explícito, algo correu mal. O contacto com uma mulher que amou no passado torna evidentes os seus falhanços. No entanto, nada de particular, nada de diferenciado; a vida, ela mesma, correu mal sem que se possa culpar qualquer acontecimento concreto. Talvez apenas uma falta: a da actividade sobre si próprio. “O que é que eu fiz para mim pessoalmente? O que semeei em mim, [...] o que fiz crescer?”.
A desesperança em Platónov é brutal, [...] balança entre o desprezo sobre si próprio e o desprezo pelos outros. A distância que guarda ao mundo e o sarcasmo com que trata os outros são símbolos do desejo de vingança que nele parece não ter objecto. De quem se pode vingar Platónov? Quem tem a culpa de ele ser o que é – um insignificante mestre-escola, casado com uma mulher que despreza? Ninguém tem culpa, não há sujeito nem acontecimento a culpar. Eis a tragédia: o inimigo de Platónov é o mais perigoso de todos porque dele é impossível traçar-se um retrato.
“Que vida! Porque é que não vivemos como podíamos viver?”, exclama Platónov por cada um de nós.'
Gonçalo M. Tavares, no manual de leitura da peça TNSJ. Foto no site do TNSJ
[ 17 JUL 3 AGO] TEATRO NACIONAL SÃO JOÃO
-
---
'A precipitação de Platónov talvez tenha sido, em suma, esta: não se contentou com o tédio.
À medida que a peça avança fica claro o seu ressentimento. O desânimo é explícito, algo correu mal. O contacto com uma mulher que amou no passado torna evidentes os seus falhanços. No entanto, nada de particular, nada de diferenciado; a vida, ela mesma, correu mal sem que se possa culpar qualquer acontecimento concreto. Talvez apenas uma falta: a da actividade sobre si próprio. “O que é que eu fiz para mim pessoalmente? O que semeei em mim, [...] o que fiz crescer?”.
A desesperança em Platónov é brutal, [...] balança entre o desprezo sobre si próprio e o desprezo pelos outros. A distância que guarda ao mundo e o sarcasmo com que trata os outros são símbolos do desejo de vingança que nele parece não ter objecto. De quem se pode vingar Platónov? Quem tem a culpa de ele ser o que é – um insignificante mestre-escola, casado com uma mulher que despreza? Ninguém tem culpa, não há sujeito nem acontecimento a culpar. Eis a tragédia: o inimigo de Platónov é o mais perigoso de todos porque dele é impossível traçar-se um retrato.
“Que vida! Porque é que não vivemos como podíamos viver?”, exclama Platónov por cada um de nós.'
Gonçalo M. Tavares, no manual de leitura da peça TNSJ. Foto no site do TNSJ
Sem comentários:
Enviar um comentário