ENTRE O PRAZER E O SIGNIFICADO

terça-feira, julho 28

Mudar de Casa

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É bom mudar de casa, de janela,
arrumar de outra maneira as ilusões,
tratar de coisas puras como tintas
e sofás, pôr ordem entre os livros
e a vida, simular a liberdade.
Parece-nos possível voltar a acreditar
na mão que nos estende um pé de salsa,
na pechincha da beleza, quando passa
no poente da razão.
Apetece cometer uma loucura,
comprar um telescópio, decorar
o canto nono dos Lusíadas,
subir umas escadas do avesso,
pensar que nunca mais teremos frio.


José Miguel Silva. Foto de Kan Gory Paw

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6 comentários:

Sol disse...

Boas mudanças. E que os copos não se quebrem no transporte :o)

Anónimo disse...

adoro esta palavra MUDAR!
é a vida que acontece quando mudamos...ainda que seja um objecto de lugar...ainda que seja de atitude...mudar de país,de alma...tudo é devir!
esta é certamente uma mudança feliz!!!;)

Anónimo disse...

e viva o IKEA!!!!...make it simple make it better!
beso SL

V. disse...

lembrei-me imediatamente deste outro:

Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas


Ruy Belo

:)

beijinho*

Anónimo disse...

A fotografia é fantástica. Recordei imediatamente outra fotografia maravilhosa de um dos mestres, Henri Cartier-Bresson. Trata-se daquela em que o homem está prestes a tocar no charco de água - Behind the Gare St. Lazare, 1932.

Uma pedra no charco... Às vezes mudar é uma pedra no charco, não?
Aproveitemos, então, as ondas que a pedra provoca.

beijos


Cláudia

Carla de Elsinore disse...

:-)

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’