ENTRE O PRAZER E O SIGNIFICADO
domingo, novembro 30
sábado, novembro 29
O elefante acorrentado
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'Quando eu era pequeno, adorava o circo e aquilo de que gostava eram os animais.
Cativava-me especialmente o elefante que, como vim a saber mais tarde, era também o animal preferido dos outros miúdos. Durante o espectáculo, a enorme criatura dava mostras de ter um peso, tamanho e força descomunais…
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Mas, depois da sua actuação e pouco antes de voltar para os bastidores o elefante ficava sempre atado a uma pequena estaca cravada no solo, com uma corrente a agrilhoar-lhe uma das suas patas. No entanto, a estaca não passava de um minúsculo pedaço de madeira enterrado uns centímetros no solo. E, embora a torrente fosse grossa e pesada, parecia-me óbvio que um animal capaz de arrancar uma arvore pela raiz, com toda a sua força, facilmente se conseguiria libertar da estaca e fugir. O mistério continua a parecer-me evidente. O que é que o prende, então? Porque é que não foge?
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Quando eu tinha cinco ou seis anos, ainda acreditava na sabedoria dos mais velhos. Um dia, decidi questionar um professor, um padre e um tio sobre o mistério do elefante. Um deles explicou-me que o elefante não fugia porque era amestrado. Fiz, então, a pergunta óbvia:
-Se é amestrado, porque é que o acorrentam?
Não me lembro de ter recebido uma resposta coerente.
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Com o passar do tempo, esqueci o mistério do elefante e da estaca e só o recordava quando me cruzava com outras pessoas que também já tinham feito essa pergunta. Há uns anos, descobri que, felizmente para mim, alguém fora tão inteligente e sábio que encontrara a resposta: O elefante do circo não foge porque esteve atado a uma estaca desde que era muito, muito pequeno.
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Fechei os olhos e imaginei o indefeso elefante recém-nascido preso à estaca. Tenho a certeza de que naquela altura o elefantezinho puxou, esperneou e suou para se tentar libertar. E, apesar dos seus esforços, não conseguiu, porque aquela estaca era demasiado forte para ele. Imaginei-o a adormecer, cansado, e a tentar novamente no dia seguinte, e no outro, e no outro...
Até que, um dia, um dia terrível para a sua história, o animal aceitou a sua impotência e resignou-se com o seu destino.
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Esse elefante enorme e poderoso, que vemos no circo, não foge porque, coitado, pensa que não é capaz de o fazer. Tem gravada na memória a impotência que sentiu pouco depois de nascer. E o pior é que nunca mais tornou a questionar seriamente essa recordação.
Jamais, jamais tentou pôr novamente à prova a sua força...
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O Elefante Acorrentado, Jorge Bucay, Editora Arte Plural
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sábado, novembro 15
Homo Faber 30
sábado, novembro 8
O Grande Teatro do Mundo 20
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Lembro-me de ver lá cinema nas piores condições... mas já o sentia como um espaço especial. Depois começou a apresentar algum teatro e, como não havia muito dinheiro, ia ver as peças para o"galinheiro". Também não fazia mal, nessa altura as peças raramente eram mais interessantes do que o edifício e lá em cima sempre tinha uma visão privilegiada dos tectos...
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Depois foi atribuída a gestão a Ricardo Pais, e durante este período (onze anos) o Teatro Nacional São João (e depois o Teatro Carlos Alberto) foi um dos motivos de orgulho para quem gosta de teatro e vive no Porto.
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Foram salas onde vi e aprendi teatro, conheci pessoas, fiz amigos, discuti com paixão os textos, as representações, a encenação, a dramaturgia, o movimento, aquele pormenor da luz...
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Salas onde o Porto passou a ser o centro do mundo nos festivais internacionais de teatro, acompanhados com os amigos como uma viagem intensa e muito confortável que nos era oferecida no Inverno.
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Salas que também permitiram ver os criativos locais que foram aparecendo, entusiasmando (ou não...) e desaparecendo.
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Ir a estes espaços tornou-se um hábito necessário, como quem vai visitar um amigo e já se sente em casa. Ajudou a simpatia das pessoas, de quem nos recebe, e os preços convidativos.
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Durante estes anos, levei diferentes pessoas às estreias, e cada peça esteve associada a alguém e a um momento vivencial. Noites em que saímos com nevoeiro, noites de calor ou noites de chuva intensa... e o Batalha sempre a espreitar. Bebemos um copo ou vamos dormir? O que é que achaste da peça? Gosto em conhecer-te, até à próxima! Vamos esperar pelos actores, quero dar um abraço ao meu amigo, etc., etc., etc.
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Ontem, na estreia de O Mercador de Veneza, com a saída anunciada do Ricardo Pais, fiquei com a sensação de que foram tempos mesmo muito especiais, daí este post.
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Não sei como vai ser daqui para a frente, mas o teatro no Porto nunca mais vai ser igual.
Nem eu.
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quarta-feira, novembro 5
segunda-feira, novembro 3
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