Ir ver um filme do Woody Allen é como visitar anualmente a casa de um amigo. A porta é sempre a mesma, com letras brancas e fundo preto.
É uma reunião que faz falta. Lembramo-nos dos tempos em que fomos lá com outras pessoas e dos tempos em que fomos sozinhos, e nos sentimos por momentos acompanhados, sempre sem medo de rir, beber, fumar, criar, amar e fracassar... com estilo.
É uma reunião que faz falta. Lembramo-nos dos tempos em que fomos lá com outras pessoas e dos tempos em que fomos sozinhos, e nos sentimos por momentos acompanhados, sempre sem medo de rir, beber, fumar, criar, amar e fracassar... com estilo.
Certos dias o encontro foi genial, outros agradável. Porém, nunca nos arrependemos. Mesmo quando a casa está desarrumada ou o anfitrião não está ao seu melhor nível (como neste Sonho de Cassandra), gostamos de estar lá e agradecemos não sermos críticos de cinema, para não ter que eclipsar a ligação afectiva pela análise mental. Há uma linguagem, um piscar de olho, uma forma de ver o outro e o mundo que só quem precisa desse encontro conhece.
Woody Allen foi o primeiro clown que conheci, cresci com uma caricatura dele afixada na parede do meu quarto. Vi todos os seus filmes. Hoje, sozinho numa sala de cinema que a cidade dos shoppings e das árvores de natal gigantes ameaça fechar, vi uma geração de pessoas que em cumplicidade silenciosa partilharam em tempos a famosa cena de Manhattan em que Woody faz a sua lista de razões porque vale a pena viver. Na minha lista estariam tantas coisas... A vida é porreira, não é?
4 comentários:
Uau!! Ler este teu texto a ouvir yann tiersen... Falas com a alma! Abraço, Paulo Pinto
Este texto tem-me acompanhado durante toda a semana e ainda não consigo escrever mais do que isto. Tenho medo que passe muito tempo e já não faça sentido dizer-te como ele me está gravado na memória.
vou muitas vezes ao cinema sozinha
mas não saberia escrevê-lo assim.
obrigada
que bom saber-te de tão bem com a vida, kerido klown
Enviar um comentário