Gilbert Garcin
Mas não é só em situações de crise existencial e após golpes do destino que muitas pessoas sentem o desejo de ver o que lhes aconteceu inserido num contexto mais vasto. Mesmo no dia-a-dia gostam de interpretar os sinais, seguir o proverbial “aceno do destino” e de acreditar, secretamente, que desígnios mais elevados intervieram, desempenhando um papel decisivo nas mais decisivas transformações da vida.
Contra isso não há nada a dizer – desde que consigamos distinguir entre factos e interpretações, de modo a não transformar os produtos da fantasia no fundamento das nossas decisões. Para tomar decisões há sempre melhores estratégias. Trata-se, portanto, de aprender uma espécie de dupla contabilidade, com a qual podemos integrar, simultaneamente, as nossas vivências em duas realidades distintas: por um lado, movemo-nos num mundo de factos comprováveis, e apenas esses devem determinar as nossas acções. Por outro lado, também podemos mergulhar num mundo de interpretações e contextos fantásticos, de onde podemos observar e, eventualmente, até revalorizar as nossas experiências, a partir de uma perspectiva mágica.
Não prescindir de nenhuma destas perspectivas e, no entanto, ser capaz de separar as águas pode parecer estranho, ao até mesmo impossível. No entanto, é bem mais fácil do que parece. No cinema, a arte da dupla contabilidade nada tem de complicado: mergulhamos no enredo de um melodrama, ficamos emocionados, os sentimentos e as lágrimas são genuínos; no entanto, não duvidamos, nem por um segundo, de que a história que está a passar no ecrã não é realidade. No dia-a-dia, uma vida assim, entre a realidade e a interpretação fantasiada também é possível. Ainda por cima, somos nós próprios – e não um destino anónimo – que desempenhamos o papel principal.
Stefan Klein, Como o acaso comanda as nossas vidas, Lua de Papel
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'O significado que atribuímos às experiências depende, em grande parte, da nossa própria interpretação. (...) Se as crianças precisam de um conto de fadas, como afirma o título de um famoso livro, então os adultos precisam de mitos.
Mas não é só em situações de crise existencial e após golpes do destino que muitas pessoas sentem o desejo de ver o que lhes aconteceu inserido num contexto mais vasto. Mesmo no dia-a-dia gostam de interpretar os sinais, seguir o proverbial “aceno do destino” e de acreditar, secretamente, que desígnios mais elevados intervieram, desempenhando um papel decisivo nas mais decisivas transformações da vida.
Contra isso não há nada a dizer – desde que consigamos distinguir entre factos e interpretações, de modo a não transformar os produtos da fantasia no fundamento das nossas decisões. Para tomar decisões há sempre melhores estratégias. Trata-se, portanto, de aprender uma espécie de dupla contabilidade, com a qual podemos integrar, simultaneamente, as nossas vivências em duas realidades distintas: por um lado, movemo-nos num mundo de factos comprováveis, e apenas esses devem determinar as nossas acções. Por outro lado, também podemos mergulhar num mundo de interpretações e contextos fantásticos, de onde podemos observar e, eventualmente, até revalorizar as nossas experiências, a partir de uma perspectiva mágica.
Não prescindir de nenhuma destas perspectivas e, no entanto, ser capaz de separar as águas pode parecer estranho, ao até mesmo impossível. No entanto, é bem mais fácil do que parece. No cinema, a arte da dupla contabilidade nada tem de complicado: mergulhamos no enredo de um melodrama, ficamos emocionados, os sentimentos e as lágrimas são genuínos; no entanto, não duvidamos, nem por um segundo, de que a história que está a passar no ecrã não é realidade. No dia-a-dia, uma vida assim, entre a realidade e a interpretação fantasiada também é possível. Ainda por cima, somos nós próprios – e não um destino anónimo – que desempenhamos o papel principal.
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O poeta Rainer Maria Rilke exprimiu-o desta maneira: “Cada dia deve e tem de ter um sentido, e não é do acaso, mas sim de mim, que ele o deve receber.”’
Stefan Klein, Como o acaso comanda as nossas vidas, Lua de Papel
4 comentários:
Obrigada, Vitor, por partilhares coisas tão belas...e esta chegou num momento especial...
A auto-determinação e a possibilidade de escolher é na verdade o bem mais precioso!
De nada, Fernanda. Fico contente por te saber leitora deste blogue. Um abraço.
Aprecio muito os trabalhos de Gilbert Garcin.
é engraçado como és um voador mas, às vezes, voas rasante à realidade
um pé na terra e a cabeça no ar
(where else?)
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