ENTRE O PRAZER E O SIGNIFICADO

quinta-feira, janeiro 31

Homo Faber 14


'Create your future from your future, not from your past.'
Werner Erhard
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‘Man does not have a nature, but a history. Man is no thing, but a drama. His life is something that has to be chosen, made up as he goes along, and a human consists in that choice and invention. Each human being is the novelist of himself, and though he may choose between being an original writer and a plagiarist, he cannot escape choosing…He is condemned to be free.’
Heinz von Foerster

terça-feira, janeiro 29

O Viajante Imóvel 32




'Se um homem atravessasse o paraíso em sonhos, recebesse uma flor como prova da sua passagem, e ao acordar encontrasse esta flor nas suas mãos, o que dizer então?
Eu era esse homem.'
JLG. Histoire(s) Du Cinéma.
Obrigado à Midas por ter editado esta obra maravilhosa em DVD

domingo, janeiro 27

A Poética de um Clown 15

Chema Madoz - BBerenika
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'- Jorge Luís Borges imaginava que o paraíso seria parecido com uma livraria. Imagina-o assim também?
- Não. Uma livraria tanto pode ser o paraíso como o inferno. O paraíso tem que ser um lugar onde as pessoas se tocam e não um lugar onde estão sozinhas com palavras.'
José Luís Peixoto

O Viajante Imóvel 31


deixares de ter pena de ti

sábado, janeiro 26

O Grande Teatro do Mundo 13

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‘Nem ingenuidade, nem cinismo, nem moral. A moral não pertence ao teatro, não lhe compete ser um espaço de julgamento. O teatro deve falar da vida tal como ela é ou de como nós gostaríamos que ela fosse. É um lugar de confrontos e de desejos, de ilusões e de desilusões.’

‘(...) Tenho sempre a esperança que se crie uma relação forte entre a cena e a sala. Acontece que o cérebro das pessoas é muito mais complexo do que aquilo que nós, os encenadores, pensamos. Acredito que os espectadores possam ver mais coisas, ou vê-las de uma maneira radicalmente diversa daquela que temos vindo a falar. Acredito que eles possam desvendar os segredos da peça, porque o segredo não está nas coisas que estão escritas, está entre as linhas, naqueles imensos espaços em branco. Os actores também têm esse dom: ajudam a abrir as portas do segredo, mas isso é algo que eu não consigo explicar. Os segredos são como os sonhos: coisas pessoais e intransmissíveis. Mas o teatro tem esta particularidade incrível: é um lugar onde nos podemos encontrar e sonhar colectivamente.’

Giorgio Barberio Corsetti entrevistado por João Luís Pereira. Manual de leitura da peça ‘O Café’, TNSJ.

quinta-feira, janeiro 24

A Representação do Eu nos Dias 31

Katsushika Hokusai
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'Mas se encararmos o homem mais como processo do que como entidade, mais como ritmo do que como estrutura, é evidente que respirar é algo que ele faz – e portanto é – constantemente.
Portanto, agarrar o ar com os pulmões corre de mãos dadas com o agarrar a vida. A chamada respiração “normal” é intermitente e ansiosa. O ar está constantemente a ser sustido e nunca completamente libertado, pois o indivíduo parece ser incapaz de o “deixar” fazer o seu percurso completo através dos pulmões. Ele respira compulsivamente em vez de o fazer livremente.'

Alan. W. Watts. O Budismo Zen. Presença

quarta-feira, janeiro 23

Tiger, tiger burning bright 2

(para o meu amigo Eduardo)
Obrigado Margarida.

Tiger, tiger, burning bright

PV. Porto. Janeiro. 2008


TIGER, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And, when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?

What the hammer? What the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?

Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
THE TIGER
by: William Blake (1757-1827)

terça-feira, janeiro 22

Homo Faber 13

Gilbert Garcin
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'O problema não está em apontar demasiado alto e falhar, está em apontar demasiado baixo e acertar'
Miguel Ângelo

segunda-feira, janeiro 21

A Poética de um Clown 14

PV. Janeiro 2008. A caminho de Salamanca


'Porque se abrirmos os olhos e virmos claramente, óbvio se torna que não há outro tempo a não ser este instante, e que o passado e o futuro são abstracções sem qualquer realidade concreta.
Até que tal se tenha tornado claro, a nossa vida parece ser toda passado e futuro, e o presente nada mais que o infinitesimal fio de cabelo que os divide. Daí nasce a sensação de “não ter tempo”, de um mundo que passa por nós a correr, tão depressa que desaparece antes de o podermos apreciar. Mas graças ao “acordar para o instante” verificamos que isto é o oposto da verdade: são antes o passado e o futuro as ilusões fugazes e é o presente que é eternamente real.
Descobrimos que a sucessão linear do tempo é uma convenção da nossa forma de pensar verbalista e unidireccional, de uma consciência que, para interpretar o mundo, se agarra a pequenas fracções dele, chamando-lhe coisas e acontecimentos. Mas cada uma dessas coisas que a mente agarra exclui o resto do mundo.'
Alan W. Watts. O Budismo Zen. Presença

domingo, janeiro 13

O Viajante Imóvel 30


Ir ver um filme do Woody Allen é como visitar anualmente a casa de um amigo. A porta é sempre a mesma, com letras brancas e fundo preto.
É uma reunião que faz falta. Lembramo-nos dos tempos em que fomos lá com outras pessoas e dos tempos em que fomos sozinhos, e nos sentimos por momentos acompanhados, sempre sem medo de rir, beber, fumar, criar, amar e fracassar... com estilo.
Certos dias o encontro foi genial, outros agradável. Porém, nunca nos arrependemos. Mesmo quando a casa está desarrumada ou o anfitrião não está ao seu melhor nível (como neste Sonho de Cassandra), gostamos de estar lá e agradecemos não sermos críticos de cinema, para não ter que eclipsar a ligação afectiva pela análise mental. Há uma linguagem, um piscar de olho, uma forma de ver o outro e o mundo que só quem precisa desse encontro conhece.
Woody Allen foi o primeiro clown que conheci, cresci com uma caricatura dele afixada na parede do meu quarto. Vi todos os seus filmes. Hoje, sozinho numa sala de cinema que a cidade dos shoppings e das árvores de natal gigantes ameaça fechar, vi uma geração de pessoas que em cumplicidade silenciosa partilharam em tempos a famosa cena de Manhattan em que Woody faz a sua lista de razões porque vale a pena viver. Na minha lista estariam tantas coisas... A vida é porreira, não é?

sábado, janeiro 12

A Poética de um Clown 13

'Ser palhaço era ser peão no xadrez do destino. Na pista, a vida não passa de um mudo espectáculo feito de cambalhotas, bofetadas, pontapés – um nunca acabar de fintas e contra-ataques. E era por meio desta vergonhosa rigolade que uma pessoa conquistava os favores do público! O idolatrado palhaço!
O bem-amado palhaço cujo privilégio especial consistia em reviver os erros, as loucuras, as idiotices, todas as incompreensões que afligem a espécie humana! Ser a própria inépcia era algo que mesmo o mais imbecil dos imbecis poderia entender. Não compreender as coisas, quando tudo é tão claro como a luz do dia; não dar pelo truque, embora repetido milhares de vezes; tactear como um cego, quando todos os sinais indicam a direcção exacta; insistir em franquear a porta errada, apesar do aviso de Perigo!; avançar para dentro do espelho, em vez de torneá-lo; espreitar pelo extremo errado de uma carabina, uma carabina carregada! – Nunca as pessoas se cansam destas coisas absurdas, pois há milénios que os seres humanos se enganam no caminho, há milénios que todas as suas buscas e interrogações desaguam num beco sem saída. O mestre da inépcia tem como domínio o tempo inteiro. Só se dá por vencido perante a eternidade.'
O sorriso aos pés da escada. Henry Miller. Asa

A Poética de um Clown 12

'Não é verdade que anjos e palhaços se ajustam divinamente bem?'

Henry Miller. Obrigado T.
Foto: Why Not Institute

sexta-feira, janeiro 11

A Representação do Eu nos Dias 30


Gilbert Garcin

'Se o meu agarrar a vida me envolve num círculo vicioso, como poderei tentar soltar, quando tentar é precisamente não soltar? Não posso ver-me livre deste desejo, dado que ele é precisamente o mesmo desejo que o desejo de me ver livre dele!
É necessário sentir "nos ossos" que nada existe para ser alcançado e agarrado. É agora possível viver espontaneamente sem tentar ser espontâneo.'

Alan W. Watts. O Budismo Zen. Presença

quarta-feira, janeiro 9

A Representação do Eu nos Dias 29

Gilbert Garcin
'Obviamente o valor do vazio repousa nos movimentos que permite ou na substância que delimita e contém. Mas o vazio deve existir primeiro. É por isso que a filosofia indiana se concentra na negação, em libertar a mente dos conceitos de Verdade. Não propõe uma ideia, ou descrição, daquilo que deverá preencher o vácuo da mente porque a ideia excluiria o próprio facto – tal como uma tinta dourada sobre o vidro ocultaria a verdadeira luz do sol.'
Alan W. Watts. O Budismo Zen. Presença

Homo Faber 12

‘Era princípio básico do Confucionismo que “é o homem que torna a verdade grande, não a verdade que torna o homem grande”, razão pela qual o “humanismo” ou “cordialidade humana” foi sempre considerado superior à “rectidão”, dado que o próprio homem é maior que qualquer ideia que possa inventar. Ocasiões há em que as paixões dos homens são muito mais dignas de confiança que os seus princípios. Dado que os princípios, ou ideologias, opostos são irreconciliáveis, as guerras travadas com base em princípios são guerras de aniquilação mútua. Mas as guerras travadas por simples ambição são muito menos destrutivas, pois o agressor terá cuidado em não destruir aquilo que luta por conquistar. Homens razoáveis – isto é, humanos – serão sempre capazes de aceitar um compromisso; mas os homens que se desumanizaram ao tornarem-se adoradores de uma ideia ou ideal, são fanáticos cuja devoção por abstracções os torna inimigos da vida.’
Alan W. Watts. O Budismo Zen. Presença

terça-feira, janeiro 8

Brinquedos Ópticos 24

autor ?
Está uma irritação estranha no ar da cidade. Impaciências miudinhas no trânsito... Hoje tive a sensação de que toda a gente estava prestes a explodir. Será que é a ressaca pós-festas? O tempo cinzento? Talvez o esforço para deixar de fumar leve tanta gente a deitar fumo pela cabeça...
O fumo do tabaco está a ser substituido pelo fumo da ansiedade, da agitação e da intolerância. Não sei qual fará pior à saúde pública.

segunda-feira, janeiro 7

O Viajante Imóvel 29

Vem da Roménia o cinema que melhor faz companhia nestes tempos.

domingo, janeiro 6

A Poética de um Clown 11

Gilbert Garcin

'Os dois homens poderosos estavam já na rua, andando agora no mesmo plano daqueles que há pouco viam da janela. Porém, apesar de um olhar distraído porventura os poder confundir com a multidão, era evidente, nos dois homens, uma confiança e uma energia que não se viam em mais nenhum rosto.
Só, curiosamente, no louco, num dos loucos mais conhecidos da cidade, que se cruzou com estes dois homens provocando noutras pessoas alguns sorrisos – pelo contraste entre a seriedade e uma velocidade apalhaçada do demente; só no louco, então, se via um rosto totalmente conquistado pela auto-admiração e pela confiança inabalável no seu modo particular de ver o mundo. Um soberano de facto.
Alguém que manda: é dessa maneira que o louco avança pelas ruas.
Os dois homens viraram mesmo o rosto, cumprimentando-o com um ligeiro aceno de cabeça. Deram-lhe pois mais atenção do que às dezenas e dezenas de pessoas com quem se cruzaram, pessoas que os queriam à força cumprimentar, naquela troca quase comercial de olhares (...).
O louco, apesar do seu descontrolo na relação com o mundo, merecia mais respeito do que todos os outros, pois pelo menos nele conseguiam vislumbrar uma espécie de orgulho individual que, se não o permitia comandar os outros homens, pelo menos permitia-lhe não lhes obedecer'.

Gonçalo M. Tavares, Aprender a Rezar na Era da Técnica, Caminho

sábado, janeiro 5

A Representação do Eu nos Dias 28

michal kycia
'Em todas as ruas te encontro, em todas as ruas te perco.' (Cesariny)
Estou a ficar cansado.

sexta-feira, janeiro 4

A Poética de um Clown 10

'O senhor Henri disse: os celtas acreditavam que se tornasses surdo um homem, esse homem ficaria para sempre teu escravo, porque não poderia escolher ensinamentos de mais ninguém.
...mas isto era no tempo em que a escrita ainda não tinha sido inventada. Nem o cinema.
...agora é preciso tornar surdo, cegar, cortar as mãos e os pés de um homem se o quiseres como escravo.
...é que nos dias que correm aprende-se por todos os lados do corpo.
...o que na minha opinião é uma falta de higiene.'

Gonçalo M. Tavares. Senhor Henri. Editorial Caminho

quarta-feira, janeiro 2

The New You Starts Here...

Fotos: PalhaçoVoador. Londres. Dez.2007-Jan.2008

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’

‘Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.’