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François Truffaut
ENTRE O PRAZER E O SIGNIFICADO
'De um modo geral, não temos consciência do muito que devemos aos factores aleatórios. O nosso cérebro está programado para não acreditar em acasos. Assim, e para que nos possamos orientar no mundo, o cérebro espelha-nos, muitas vezes uma segurança ilusória.
Num mundo cada vez mais complexo e intrincado somos constantemente obrigados a tomar decisões sem estar na posse de todas as informações necessárias. (...) Podemos orientar o nosso comportamento de modo a que possamos tirar proveito da situação, mesmo quando as condições exteriores se modificam surpreendentemente. É assim que podemos transformar o acaso num aliado. Para além disso, o jogo com o inesperado abre-nos estratégias para desenvolvermos ideias e criarmos, de forma sistemática, oportunidades favoráveis.
No entanto, essas oportunidades não nos vêm cair às mãos de graça. Quem quiser tirar proveito delas tem de se distanciar de uma ilusão arreigada, que consiste na crença de que podemos planear a nossa vida até ao mais ínfimo pormenor. Ocuparmo-nos com o acaso ensina-nos humildade.
No fundo, todos nós sabemos que muitas vezes a segurança é mais desejada do que real. Quando começamos a aprofundar o fenómeno do acaso, essas manobras ilusórias são substituídas por uma confiança no imprevisível – e pela consciência de que temos a capacidade de tirar proveito das surpresas. Conhecer o acaso acalma.Se nos abrirmos para as incertezas do mundo acabamos por ser premiados bem mais vezes do que esperávamos. Há que contar com milagres.'
Stefan Klein, Como o acaso comanda as nossas vidas, Lua de Papel